Winnicott e o pensamento pós-metafísico
Winnicott e o pensamento pós-metafísico
O caráter experiencial da escrita winnicottiana inibiu, desde suas primeiras linhas, o uso de terminologia e construções especulativas exemplificadas pela mitologia freudiana (Totem e tabu, Moisés e o monoteísmo) e por sua metapsicologia, inspirada em Kant. Já no primeiro contato com a obra de Winnicott, percebi semelhança entre a sua teoria do amadurecer humano e a analítica existencial de Heidegger, decididamente não especulativa. As teses winnicottianas de que o homem está aí para ser e de que, na vida humana, o que está em jogo é ser mais do que fazer sexo, sugerem naturalmente um paralelo com a investigação de Heidegger sobre o a-ser do homem na vida cotidiana e o sentido do ser como o problema fundamental da filosofia. Essa foi a porta de entrada para uma série de trabalhos que dediquei à interpretação do amadurecer humano à luz da acontecencialidade heideggeriana, bem como ao estudo das implicações do exame winnicottiano da facticidade humana para o esclarecimento, e também, como ficou claro para mim com o passar dos anos, a revisão dos existenciais da ontologia de Ser e tempo.
Z. Loparic