X COLÓQUIO WINNICOTT DO RIO DE JANEIRO
25 DE SETEMBRO DE 2021, das 8h45 às 16h30
MATERNIDADE
O que compete à maternidade na constituição do indivíduo humano, na perspectiva de Winnicott? Quais são as atribuições que lhe confere o autor, tendo em vista que a expressão “mãe suficientemente boa” é central em sua obra? Essas atribuições fazem parte intrínseca da concepção winnicottiana de natureza humana? O que Winnicott descreve, como sendo atribuição da maternidade, deriva dessa concepção ou provém de alguma ideologia? Essas atribuições fazem parte, ainda – e sobretudo –, do que ele descreveu como estágio de dependência absoluta” ou do que ele descreveu como sendo necessidades fundamentais do início da vida. Se sua famosa frase: “não existe tal coisa como um bebê” significa: não há nada que possa ser dito sobre um bebê a não ser que ai se inclua o modo como ele está sendo cuidado”, não estará aqui presente o que ele entende por maternidade? Se, segundo Winnicott, é atribuição da maternidade – não esqueçamos que também o pai participa, indireta e diretamente, da maternidade – favorecer as conquistas fundamentais do início da vida, e, com isso, o estabelecimento da saúde emocional, prevenindo distúrbios emocionais que podem ser tão mais graves quanto mais primitivamente têm origem – qual é, nesse caso, a relação custo-benefício? Em que sentido se deve entender o conceito de “preocupação materna primária”? Trata-se da descrição de um estado natural da mulher que gesta, e que daí deriva a sua capacidade de se comunicar a nível primitivo com o bebê, ou é uma sobrecarga atribuída desnecessariamente à mulher que se torna mãe? Tendo em vista que a mãe pode sentir-se tão desamparada como o seu bebê, ao exercer a maternidade nos primeiros tempos, quais são as ajudas efetivas que ela deve poder esperar? Além da saúde emocional de cada indivíduo, quais são os ganhos sociais e políticos de uma maternidade exercida de forma satisfatória?
Estas são algumas das questões a serem debatidas no Colóquio do Rio de Janeiro.
PROGRAMAÇÃO
08h45 | Abertura
09h00 | Elsa Dias (IBPW/IWA)
Alfredo Naffah Neto (IBPW/IWA/PUC-SP)
Maternidade e feminismo
mediadora: Daniela Guizzo (IBPW/IWA)
10H30 | Z.Loparic (IBPW/IWA/UNICAMP) | O papel da mãe no processo de amadurecimento
mediadora: Roseana Moraes Garcia (IBPW/IWA)
COMUNICAÇÕES
11H30 | A esperança materna primária no contexto da prematuridade | Lígia Barboza Moreira Santos e Ivonise Fernandes da Motta
11H50 | Do nascer em terreno árido ao tornar-se indivíduo em solo fértil: o maternar no encontro analítico | Ana Claudia de Barros Fioravante
12H10 | A maternidade e a possibilidade de deprimir-se | Lorraine Fátima Bim Silva
12H30 | Reflexões sobre o psiquismo da mãe, a partir de Winnicott | Rachele Ferrari
12H50 | A importância da licença maternidade durante o período de dependência absoluta do bebê | Tatiana Goulart
13H10 | Psiquismo materno: a relação entre os conceitos de Transparência Psíquica e preocupação materna primária a partir da teoria winnicottiana | Flávia Maria de Paula Soares
mediadora: Daniela Guizzo (IBPW/IWA)
13h30 | Almoço
14h30 | Roberto Cooper (Universidade Estácio de Sá) | Winnicott, maternidade e patriarcado
Daniela Guizzo (IBPW/IWA) | O manejo cuidadoso de Winnicott com as mães de seus pacientes
mediadora: Conceição Serralha (IBPW/IWA/UFTM)
15h30 | Conceição Serralha (IBPW/IWA/UFTM) | Maternidade: significados e sentidos
mediadora: Daniela Guizzo (IBPW/IWA)
16h30 | Encerramento
Maternidade e feminismo
A palestra pretende discutir alguns pontos chave das considerações feitas por Winnicott acerca do feminismo (no texto “This feminism”, de 1964) e, em seguida, introduzir o tema da maternidade (a partir das diferenças de constituição psíquica da mulher e do homem, segundo Winnicott), para discutir diferentes tipos de feminismo: aquele que luta pelos direitos da mulher de condições de trabalho mais dignas, que lhes assegurem o tempo necessário de maternagem e, no outro extremo, aquele que pretende levar a mulher à mesma condição alienada do trabalho masculino no mundo capitalista, relegando os filhos às creches e às babás. Em seguida, discutir os efeitos disso na sociedade.
Alfredo Naffah Neto (IBPW\IWA\PUC-SP)
Alfredo Naffah Neto, psicanalista, mestre em filosofia pela USP, doutor em psicologia clínica pela PUC-SP, professor titular da PUC-SP, professor e supervisor colaborador do IBPW e da IWA. Prática psicanálise, psicoterapia de casal e família.
Maternidade: significados e sentidos
Nos últimos tempos, um movimento tem chamado a atenção em nossa sociedade: o das “mães arrependidas”. Ao exporem seus sentimentos e razões para o arrependimento de terem se tornado mães, essas mulheres o justificam com as responsabilidades, pressões sociais, ilusões perdidas, falta de tempo para si mesmas, entre outras questões, mas não deixam de afirmar que amam seus filhos. A partir disso, esta conferência pretende discutir os significados sociais e sentidos individuais dados à maternidade, levando em conta o pensamento winnicottiano sobre o tema. Para além de qualquer romantização da maternidade, Winnicott mostrou como as mães podem, inclusive, odiar os seus bebês. Essa realidade, porém, não consegue tamponar o fato da dependência absoluta, e depois relativa, dos cuidados de um ambiente humano facilitador, que todo ser humano vive em seu início de vida. Assim, alguém deverá exercer esses cuidados, primeiramente maternos, para que a humanidade possa ter futuro.
Conceição Serralha (IBPW/IWA/UFTM)
Doutora em Psicologia Clínica. Possui doutorado e mestrado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007; 2002). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Intervenção Terapêutica, atuando principalmente nos seguintes temas: Winnicott, psicanálise, ambiente humano, autismo infantil e amadurecimento humano. Professora Associada da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFTM (PPGP-UFTM). Membro do Departamento de Psicologia, que compõe o Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais – IELACHS.Psicanalista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana – SBPW, filiada à International Winnicott Association – IWA . Membro do Grupo de Pesquisa em Filosofia e Práticas Psicoterápicas- GrupoFPP e líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Psicanálise da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – GEPPSE.
O manejo cuidadoso de Winnicott com as mães de seus pacientes
Esta apresentação ilustrará com vinhetas clínicas os comentários de algumas mães durante o período em que Winnicott estava atendendo seus filhos e de como o manejo winnicottiano as ajudou não somente a lidar com suas crianças, mas também consigo mesmas.
Daniela Guizzo (IBPW/IWA)
Psicóloga (UCDB – MS), Mestre pela PUC-SP com a dissertação “Winnicott e as raizes da moralidade”, Doutora pela PUC-SP com a tese “O caso
Piggle e as depressões infantis na psicanálise winnicottiana”, Psicanalista (IBPW/IWA),
Professora Credenciada (IBPW). Analisa e supervisora em consultório particular.
Maternidade e feminismo
A partir de um sentido crucial de maternidade, em Winnicott, examina-se de que modo a maternidade entrou na pauta do movimento feminista e qual é a natureza da queixa ou da acusação que se faz ao autor sobre as incumbências que sua teoria lança implicita ou explicitamente às mães.
Elsa Oliveira Dias (IBPW/IWA)
Doutora em Psicologia Clínica. Graduada em Psicologia (PUC-SP, 1975), mestre em Filosofia (PUC-SP, 1984) e doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP, 1998). Tem experiência na área de psicologia, com ênfase em psicologia do desenvolvimento humano. Atuando principalmente nos seguintes temas: Winnicott, amadurecimento, distúrbio psíquico, psicose, trauma e agonias impensáveis.
O papel da mãe no processo de amadurecimento
Neste trabalho, proponho-me a apresentar um esboço da teoria winnicottiana da maternidade, elaborada com base em sua pesquisa científica nas áreas de pediatria, psiquiatria, psicanálise e serviço social. Iniciarei com as principais teses de Winnicott sobre as contribuições da mãe para o amadurecimento humano sadio segundo as cinco linhas desse processo: pessoal, somática, mental, social e cultural. Em seguida, abordarei as falhas maternas e as suas consequências para a saúde. Por fim, explicarei o que Winnicott clínico tem a dizer sobre o papel da mãe na terapia dos distúrbios maturacionais.
Z. Loparic (IBPW/IWA/UNICAMP)
Professor titular aposentado da Unicamp. É autor de “Sobre a responsabilidade” (2003) e “Winnicott e Jung” (2014), entre outros livros. Em 2015, fundou, com Elsa O. Dias, o Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (IBPW).
Winnicott, maternidade e patriarcado
Esta apresentação proporá uma reflexão sobre a maternidade em nossa cultura patriarcal e como Winnicott pode ser considerado um autor com ideias não patriarcais. Desta reflexão poderá surgir uma percepção de como nossa formação e atendimento precisam ser revistos a fim de favorecer a mulher e seu bebê.
Roberto Cooper (UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ)
Pediatra, Mestre em Saúde da Família- UNESA, professor do curso de medicina da UNESA.
COMUNICAÇÕES
Comunicação 1
A esperança materna primária no contexto da prematuridade
Os equipamentos e procedimentos médicos empregados no suporte à vida de bebês prematuros acabam por restringir o cuidado oferecido pela mãe ao seu filho, aspecto importante para o desenvolvimento psíquico do recém-nascido. Em meio ao impactante ambiente intensivista neonatal e ao estado de identificação com o bebê, a mãe enfrenta o desafio singular de encarar a fragilidade de seu bebê prematuro. Tal contexto exige que a mãe acesse seus recursos internos provindos de cuidados ambientais anteriores para acreditar que ela e seu bebê poderão superar essas condições adversas, ou seja que ela tenha esperança.
Lígia Barboza Moreira Santos
Possui graduação em Psicologia pela UFSCar e Aprimoramento Profissional em Psicologia Clínica/Hospitalar no Iamspe. É mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP e membro do Laboratório de Pesquisa sobre o Desenvolvimento Psíquico e a Criatividade em Diferentes Abordagens Psicoterápicas. Atua como psicóloga no Hospital Municipal José de Carvalho Florence.
Ivonise Fernandes da Motta
Possui graduação em Psicologia pela USP, mestrado e doutorado em Psicologia Clínica pela USP. Atualmente é Professora Livre-Docente no Instituto de Psicologia da USP e Orientadora do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa sobre o Desenvolvimento Psíquico e a Criatividade em Diferentes Abordagens Psicoterápicas do IPUSP.
Comunicação 2
Do nascer em terreno árido ao tornar-se indivíduo em solo fértil: o maternar no encontro analítico
Tendo a Teoria do Amadurecimento Pessoal de Winnicott como companhia e a relação mãe-bebê como modelo para o atendimento psicanalítico, apresento neste trabalho a análise de um menino de 7 anos, abrigado em uma instituição de acolhimento após presenciar o suicídio da mãe e a separação abrupta dos irmãos. Os encontros foram permeados por grande turbulência, atuações violentas e ameaças de morte, passando por possibilidades de acolhimento e adaptação às demandas, os quais culminaram em experiências no campo transicional e entrada na adolescência.
Ana Claudia de Barros Fioravante
Psicóloga clínica, formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP. Trabalha em consultório particular com crianças, adolescentes e adultos, como supervisora e coordenadora de grupos de estudos. Tem experiência como Psicóloga Social na coordenação de projetos sociais e em instituição de acolhimento. É professora e membro da diretoria do Instituto de Estudos Psicanalíticos de Ribeirão Preto – IEPRP.
Comunicação 3
A maternidade e a possibilidade de deprimir-se
A impetuosidade de um bebê, especialmente nos estágios primitivos do desenvolvimento, é difícil de ser suportada e não retaliada pela mulher que se torna mãe, principalmente se ela for incapaz de lidar com as ambivalências inerentes às relações humanas e com os conflitos trazidos pela maternidade. Entendendo a capacidade para deprimir-se justamente como a possibilidade de experimentar culpa e tristeza, demonstrando a apropriação que um sujeito fez da própria destrutividade, levanta-se o questionamento sobre como essa capacidade – ou falta dela – pode impactar os cuidados que essa mulher oferecerá ao seu bebê no futuro.
Lorraine Fátima Bim Silva
Psicóloga. Mestranda em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica, no Núcleo de Psicanálise. Pesquisadora do Núcleo de Filosofia Política e do Grupo de Pesquisa A Crise do Amadurecimento na Contemporaneidade, do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo /PUC-SP – LABÔ.
Comunicação 4
Reflexões sobre o psiquismo da mãe, a partir de Winnicott
Conflitos, ambivalências, ódios, amores, culpas, destruição, criação, são múltiplas e diversas as experiências afetivas que compõem o universo do psiquismo materno. O percurso da entrada na maternalidade nada tem de idílico e, menos ainda, é isento de impasses e alternância de sentimentos.
Apresento uma interlocução de algumas ideias de Winnicott com trechos da literatura escritos por mulheres-mães-escritoras, que criaram imagens eloquentes para descrever o estado psíquico que experimentaram com a chegada da maternidade. A partir dessas reflexões, propomos pensar sobre que dispositivos na cultura precisam ser criados para oferecer apoios legítimos à mãe e à família no exercício da parentalidade.
Rachele Ferrari
Psicanalista, doutoranda em Psicologia Clínica pelo IP-USP, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pesquisadora do tema “Maternidade” no LipSic (Laboratório Interinstitucional de Estudos da Intersubjetividade e Psicanálise Contemporânea – USP/PUC-SP). Autora do livro Voluntariado: uma dimensão ética e co-autora do livro Para além da contratransferência, o analista implicado, organizado pelas Profªs Elisa Ulhôa Cintra, Gina Tamburrino e Marina F. R. Ribeiro. Autora, em co-autoria com Marina F. R. Ribeiro, do artigo Ser mãe, ser pai: desafios na contemporaneidade nos Cad. de Psicanálise (CPRJ), Rio de Janeiro, v. 42, n. 42, jan./jun. 2020. Sua última palestra sobre seu tema de pesquisa ocorreu, via Zoom, em jul/2021, sob o título Maternidade: assombro e elaboração. É docente no CEFAS-Campinas.
Marina Ferreira da Rosa Ribeiro
Marina Ferreira da Rosa Ribeiro, Psicanalista, Prof.ª Dra. do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), membro efetivo do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; autora dos livros: De mãe em filha. A transmissão da feminilidade; Infertilidade e reprodução assistida. Desejando filhos na família contemporânea; co-autora dos livros: Por que Klein?, Bion em nove lições e Balint em sete lições; co-organização e texto no livro Para além da contratransferência: o analista implicado, além de diversos artigos em periódicos.
Comunicação 5
A importância da licença maternidade durante o período de dependência absoluta do bebê
A legislação brasileira assegura direitos às gestantes e crianças, dentre eles, que a mãe contribuinte do INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, tenha direito a um período de licença remunerada de seu emprego para permanecer com o filho após o nascimento. A mulher melhor amparada pode vivenciar a preocupação materna primária, isto é, voltar-se do exterior para o interior do corpo na gravidez e para o bebê pós-parto. E como a preocupação materna primária é vivenciada pelas mulheres que não têm o direito da licença maternidade? Uma reflexão necessária, principalmente, para melhor amparar mulheres em condição de maior vulnerabilidade social.
Tatiana Goulart
Possui graduação em psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2010), aprimoramento clínico nas áreas de psicoterapia infantil winnicottiana e orientação vocacional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2011), e formação em Psicanálise Winnicottiana pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (em andamento desde 2016). Atualmente, trabalha como psicóloga clínica em consultório particular, cuidando de adultos, adolescentes e gestantes de alto risco.
Comunicação 6
Psiquismo materno: a relação entre os conceitos de Transparência Psíquica e preocupação materna primária a partir da teoria winnicottiana
O presente trabalho busca compreender o psiquismo materno, no puerpério, a partir dos conceitos de transparência psíquica de Bydlowsky e preocupação materna primária de Winnicott. Sugiro que os dois fenômenos psíquicos são modos saudáveis de regressão à dependência temporariamente “normal” do psiquismo materno que se apresentam como fenômenos transicionais no espaço potencial. Esses conceitos podem vir a contribuir para a avaliação e intervenção precoce, caso a mãe tenha dificuldades para realizar a maternagem, em uma clínica do holding do holding.
Flávia Maria de Paula Soares
Psicóloga, psicanalista, professora universitária (PUCPR), mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutora em Filosofia da Psicanálise pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Autora do livro Envelhescência: o trabalho psíquico na velhice.