Apresentação

A educação pública no Brasil é um território marcado por um grande contingente de estudantes em situação de sofrimento psíquico decorrente das mais diversas condições de vulnerabilidade. Mais do que em qualquer outro momento histórico, atualmente a escola brasileira está se havendo com dificuldades no manejo de estudantes que não respondem aos modos de condução dos processos de ensino que as instituições escolares desenvolveram ao longo de sua trajetória.
Neste cenário, a abordagem da saúde psíquica na escola pode se dar de modos radicalmente diferentes, pois a produção de conhecimento que orienta tais ações se origina de distintas fundamentações teórico-práticas.

A presente jornada baseia-se em uma compreensão dos processos de saúde e adoecimento decorrentes do acontecer humano em seu ambiente e sua história, buscando fomentar o debate em torno das ideias do pediatra e psicanalista D. W. Winnicott, cuja obra tem subsidiado práticas consistentes em diversas áreas do conhecimento como a clínica psicanalítica e a educação. Sua teoria do amadurecimento emocional humano proporciona a possibilidade de pensar sobre questões do cotidiano escolar alicerçadas na sua ampla vivência profissional, o que lhe permitiu organizar suas ideias de um modo fecundo, criativo e próximo à realidade das pessoas.

Com isso, a Jornada Winnicott e a Educação busca fortalecer a comunidade escolar e contribuir para o desenvolvimento de espaços de sensibilidade e sustentação para o trabalho em psicologia nas instituições educacionais.

Z. Loparic

Inscrições

*O evento será inteiramente online e a gravação ficará disponível por 30 dias.

Inscrições encerradas!

Programação

Mini Currículo

Daniela Céspedes Guizzo Gomes da Silva é Psicóloga Clínica desde 1996 (UCDB- MS). Mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP) com a dissertação “Winnicott e as origens da moralidade” em 2006. Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP) com a tese “O Caso Piggle e as depressões infantis na psicanálise Winnicottiana” em 2011. Psicanalista pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana. Professora credenciada (IBPW). Analista e supervisora em consultório particular.

Sabrina Gasparetti Braga Pani  é doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo, com período sanduíche na Universidade de Bologna. Possui especialização em Saúde Coletiva pelo Instituto de saúde – SES. Atuou como docente no curso de Psicologia na Unilago e na Universidade Paulista – UNIP nas disciplinas de Psicologia Escolar, Psicologia Sócio-Interacionista, Psicologia Construtivista e Educação Inclusiva. Desenvolve trabalhos relacionados, principalmente, aos seguintes temas: psicologia escolar e educacional, atendimento e orientação à queixa escolar, educação básica, avaliação psicológica.

Maria José Ribeiro é professora aposentada do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia e atual diretora da Clínica IPPE (Uberlândia). Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004), Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1993), Aprimoramento em Psicopedagogia pela Universidade de São Paulo (1989).

Flávio Del Matto Faria possui Doutorado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003) e Mestrado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997). Especialização em Psicologia Clínica (CRP – 06). Especialização em Psicoterapia psicanalítica da pré-Adolescência e da Adolescência pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psicanalista, professor, orientador e supervisor clínico associado do Instituto Brasileiro de psicanálise Winnicottiana. Coordenador geral do Serviço de Atendimento Psicanalítico do IBPW.

Tania Maria José Aiello Vaisberg é livre-docente em Psicopatologia pela Universidade de São Paulo, onde atuou como docente pesquisadora de 1975 até sua aposentadoria, mantendo-se como orientadora de mestrados e doutorados e liderando o Grupo de Pesquisa Psicopatologia, Psicanálise e Sociedade. Foi orientadora, durante 17 anos, na PUC-Campinas e lecionou como professora visitante na Université de Paris-Nanterre. Ocupa a cadeira 12 da Academia Paulista de Psicologia e é membro efetivo do Espaço Potencial Winnicott do Instituto Sedes Sapientiae. É autora de livros, capítulos de livros e artigos científicos e vem aprofundando pesquisas sobre sofrimentos sociais, com especial atenção àqueles que se vinculam à maternidade, além  de estudar a proposição de “enquadres clínicos diferenciados do estilo clínico Ser e Fazer”.

Resumos

Winnicott, vida e obra

A abertura da jornada consistirá em uma apresentação da história de Winnicott desde o início de sua vida profissional como pediatra até a sua consolidação como um dos maiores psicanalistas de sua época. Serão apresentadas as conexões entre sua vida pessoal e profissional com a criação da revolucionária teoria do amadurecimento e, por final, serão apresentadas suas significativas contribuições para a educação.

Desafios atuais da identidade profissional do psicólogo nas instituições educacionais

Iniciados na década de 1980 os trabalhos de Patto (1984, 1999) fizeram a crítica ao lugar até então ocupado pela Psicologia diante do fracasso escolar. Segue sendo um desafio para a identidade profissional a apropriação do cabedal teórico crítico construído ao longo das últimas décadas com vistas a hegemonia de uma atuação que compreenda a produção do fracasso escolar em sua complexidade, considerando sua multideterminação.

Winnicott e a psicologia escolar e educacional 

A teoria winnicottiana do amadurecimento emocional humano, os escritos do autor dirigidos a pais, educadores e demais profissionais constituem um fundamento teórico sólido e disponível para subsidiar a elaboração de propostas de trabalho em Psicologia Escolar e Educacional, como: o desenvolvimento profissional de professores, o acolhimento às famílias, a aproximação com a comunidade em que a escola está inserida, a organização de espaços escolares facilitadores ao desenvolvimento e aprendizagem, o trabalho e o estudo com a equipe de especialistas de ensino e administradores escolares, a avaliação psicológica e o atendimento de crianças com dificuldades na escolarização. Enfatizamos a importância do estudo do desenvolvimento emocional humano para educadores, especialmente psicólogos escolares, mostrando a pertinência da obra de Winnicott como uma formulação teoricamente consistente, ampla na abordagem dos fenômenos psicológicos, fascinante pela fertilidade de temas estudados e realmente útil para esse campo de atuação.

Contribuições de Winnicott para a compreensão do suicídio na adolescência

Apesar de nāo ter escrito textos específicos sobre a questão do suicídio, Winnicott abordou esse tema em um grande número de seus artigos, incluindo relatos de casos clínicos de crianças, adolescentes e adultos. Suas contribuições nos permitem perceber que as raízes do ato suicida se implantam nos estágios iniciais do amadurecimento e isso tem implicações diretas na adolescência, devido à retomada de alguns elementos das experiências primitivas do indivíduo nesse período. Para o adolescente o ambiente permanece sendo de grande importância e, nesse sentido, a escola pode se constituir num elemento fundamental para a facilitação do amadurecimento.

O conceito de transicionalidade em Winnicott e intervenções escolares mediadas por experiências culturais

Considerando que a riqueza e complexidade do pensamento winnicottiano, hoje plenamente reconhecido como uma das mais importantes contribuições da psicanálise relacional contemporânea, teceremos reflexões a partir de sua articulação com as exigências da psicologia psicanalítica concreta de José Bleger, que originou, na Universidade de São Paulo, o desenvolvimento dos enquadres diferenciados “Ser e Fazer”. Baseados na noção winnicottiana de transicionalidade, são dois os tipos de enquadre mais frequentemente praticados: 1) as oficinas psicoterapêuticas de criação e 2) as oficinas de desenvolvimento de capacidades. Ambos seguem paradigmaticamente o Jogo do Rabisco e fazem uso de materialidade mediadoras. Ambos os tipos de enquadre serão detalhados para finalizar a apresentação com a narrativa e análise de uma intervenção junto a escolares que são futebolistas em formação de um clube profissional.